Um mundo viciado em drogas

UM RECÉM-NASCIDO grita histericamente num hospital em Madri, na Espanha. Uma enfermeira tenta freneticamente acalmá-lo, mas em vão. O bebê sofre da agonia da abstinência de heroína. Pior ainda, ele tem o vírus da Aids; sua mãe era viciada em heroína.
Em Los Angeles, uma mãe sem querer entrou de carro numa rua controlada por narcotraficantes. Foi recebida a balas, que mataram a sua filhinha.
Milhares de quilômetros dali, no Afeganistão, um camponês cultiva papoulas. Foi um bom ano; a produção aumentou 25%. As papoulas de ópio são rentáveis, e a família do camponês luta para sobreviver. Mas essas belas papoulas serão convertidas em heroína, e a heroína destrói vidas.
Macro cannabis bud.jpgUma adolescente tímida em Sydney, Austrália, vai todos os sábados à noite a uma discoteca. Ela achava difícil misturar-se com a multidão, mas, recentemente, um comprimido chamado ecstasy deu-lhe nova confiança. Os comprimidos que ela toma foram contrabandeados da Holanda para a Austrália, embora os laboratórios locais já os estejam produzindo agora. O ecstasy faz a música soar melhor e a jovem perde as suas inibições. Ela até se acha mais atraente.
Para Manuel, um rústico camponês que vive do cultivo de sua pequena fazenda nos Andes, a vida ficou um pouco mais fácil desde que começou a plantar coca. Manuel gostaria de parar de cultivar esse produto, mas teme enfurecer os homens cruéis que controlam a produção de coca na região.
Esses são apenas alguns exemplos de pessoas por trás do flagelo das drogas, que está arruinando o nosso planeta. Seja como consumidores, seja como produtores ou como pessoas inocentes alheias ao problema, as drogas estão implacavelmente tomando conta da vida dessas pessoas.

A dimensão do problema

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, observa: “As drogas estão destruindo as nossas sociedades, fomentando o crime, disseminando doenças como a Aids e matando os nossos jovens e o nosso futuro.” Ele acrescenta: “Existem hoje uns 190 milhões de usuários de drogas ao redor do mundo. Nenhum país é imune a isso. E sozinho, nenhum país pode esperar estancar o narcotráfico dentro de suas fronteiras. A globalização do narcotráfico exige uma resposta internacional.”

Agravando as coisas, em anos recentes surgiram certas drogas com estrutura química ligeiramente alterada, em geral produzidas para burlar restrições a narcóticos ou alucinógenos ilegais. Essas substâncias químicas sintéticas visam dar ao usuário uma sensação de euforia. Visto que essas drogas podem ser produzidas a um baixo custo em quase qualquer lugar, as forças policiais praticamente não têm como controlá-las. Em 1997, a Comissão das Nações Unidas sobre Narcóticos alertou que, em muitos países, essas drogas sintéticas haviam se tornado parte da “cultura de consumo” e que têm de ser encaradas como “formidável ameaça à sociedade internacional no próximo século”.
Essas novas drogas não são menos poderosas do que as suas predecessoras. O crack, à base de cocaína, é mais viciador do que a própria cocaína. Novas estirpes de cânhamo têm maiores efeitos alucinógenos, e uma nova droga chamada ice (gelo), uma extrapoderosa forma de metanfetamina, está entre as mais destrutivas de todas.

O dinheiro e o poder das drogas

Embora os usuários de drogas talvez sejam a minoria, seu número é suficiente para conferir imenso poder aos “barões” da droga, os homens que organizam a sua produção e distribuição. Esses indivíduos inescrupulosos operam um mercado negro que se tornou o mais lucrativo — e praticamente o maior — negócio na Terra. O comércio das drogas talvez responda agora por uns 8% do comércio mundial, ou aproximadamente 400 bilhões de dólares anuais. Circulando ao redor do mundo, o dinheiro das drogas enriquece quadrilhas, corrompe policiais, suborna políticos e até mesmo financia o terrorismo.
Há algo que se possa fazer para coibir o problema das drogas? Até que ponto o comércio de drogas afeta o seu bolso, a sua segurança e a vida de seus filhos?

Como as drogas afetam a sua vida

COMO o cupim que corrói as vigas de madeira de uma casa, as drogas podem corroer a inteira estrutura da sociedade. Para funcionar bem, a sociedade humana precisa ter famílias estáveis, trabalhadores saudáveis, governos de confiança, polícia honesta e cidadãos honrados. As drogas corrompem todos esses segmentos fundamentais.
Uma das razões pelas quais os governos proíbem o uso de drogas é o mal que elas causam à saúde de seus cidadãos. Anualmente, milhares de viciados morrem de overdose. Muitos mais morrem de Aids. De fato, cerca de 22% dos soropositivos do mundo são usuários de drogas que se injetaram com agulhas infectadas. Com bons motivos, numa recente conferência das Nações Unidas, Nasser Bin Hamad Al-Khalifa, do Catar, alertou que a “aldeia global está em vias de se tornar um túmulo comunal para milhões de seres humanos em resultado do comércio ilícito de drogas”.
Mais do que a saúde do usuário é afetada, porém. Cerca de 10% dos bebês nascidos nos Estados Unidos são expostos a uma droga (em geral cocaína) no ventre materno. Sofridos sintomas de abstinência não são o único problema que eles enfrentam, pois a exposição à droga no ventre pode levar os recém-nascidos a sofrer outros efeitos prejudiciais — tanto mentais como físicos.
Dinheiro fácil: uma tentação irresistível
Sente-se seguro na sua vizinhança, à noite? Se não, é provável que seja por causa dos traficantes de drogas. Muitos assaltos e a violência nas ruas têm ligação com as drogas. Muitos viciados recorrem ao crime ou à prostituição para financiar o seu vício, ao passo que gangues rivais lutam e matam para manter o controle sobre a distribuição de drogas. Compreensivelmente, a polícia em muitas cidades sabe que as drogas estão por trás da maioria dos assassinatos que ela investiga.
Em alguns países, grupos rebeldes também têm se aproveitado do lucrativo narcotráfico. Metade da renda de um grande grupo guerrilheiro na América do Sul vem agora da proteção que ele dá aos traficantes. “Os lucros das vendas de drogas financiam alguns dos mais ferozes conflitos religiosos e étnicos do mundo”, diz um dossiê do Programa das Nações Unidas para o Controle Internacional de Drogas.

Provocam tragédias

Os usuários de drogas tornam inseguras as ruas também em outros sentidos. “Dirigir um carro sob a influência da maconha ou do LSD pode em todo sentido ser tão perigoso como dirigir sob a influência do álcool”, declara Michael Kronenwetter em seu livro Drugs in America. Não é de admirar que os usuários de drogas tenham três ou quatro vezes mais probabilidade de se envolverem em acidentes de trabalho.
É provavelmente no lar, no entanto, que as drogas causam o maior estrago. “Vida familiar desestruturada e uso de drogas em geral andam de mãos dadas”, diz o The World Drug Report da ONU. Pais ansiosos por drogas raramente dão aos filhos uma vida familiar estável. O vínculo pais-e-filhos, tão vital nas primeiras semanas da vida de uma criança, pode até ser prejudicado. Além disso, muitos pais viciados se endividam ou roubam de seus amigos e de sua família, ou talvez percam o emprego. Muitas crianças que crescem nesse ambiente passam a viver nas ruas, ou se envolvem elas mesmas com drogas.
O abuso de drogas pode levar também ao abuso físico — do cônjuge ou dos filhos. A cocaína, em especial se for misturada com álcool, pode levar uma pessoa normalmente pacífica a comportar-se com violência. Segundo uma pesquisa canadense sobre usuários de cocaína, 17% dos entrevistados admitiram tornar-se agressivos depois de usar drogas. Também, um relatório sobre abuso de crianças na Cidade de Nova York calculou que 73% das crianças espancadas até a morte tinham pais que abusavam das drogas.

Corrupção e contaminação

Assim como no lar, os governos também podem ser minados por drogas. Neste caso, é o dinheiro das drogas, em vez de as próprias drogas, que corrompe o sistema. “As drogas têm corrompido autoridades, a polícia e o exército”, lamentou um embaixador de um país sul-americano. Ele acrescenta que o volume de dinheiro disponível é “uma tentação grande demais” para quem mal ganha para sobreviver.
Em muitos países, juízes, prefeitos, policiais, e até mesmo autoridades que combatem o narcotráfico têm caído na rede da corrupção. Políticos cuja eleição talvez tenha sido financiada pelos barões da droga fazem ouvidos de mercador quando são convocados para atacar o tráfico de drogas. Muitas autoridades honestas que lutaram corajosamente contra as drogas foram assassinadas.
Até mesmo o solo, as florestas e as espécies que as habitam sofrem do flagelo global das drogas. Uma grande porcentagem da produção de ópio e de cocaína está centralizada em duas regiões especialmente sensíveis ao dano ambiental: as florestas tropicais do oeste da Amazônia e do sudeste asiático. A devastação nesses lugares tem sido grande. Até mesmo as louváveis tentativas de destruir as plantações ilegais causam sérios danos devido aos herbicidas tóxicos que são usados.

Quem paga?

Quem paga o dano causado pelas drogas? Todos nós. Sim, todos nós pagamos a perda de produtividade, os custos do tratamento dos drogados, os roubos ou a danificação de propriedade e os custos do combate ao crime. Segundo um relatório do Departamento de Trabalho americano “o uso de drogas no local de trabalho talvez custe ao comércio e à indústria americana de 75 bilhões a 100 bilhões de dólares anualmente . . . em faltas ao serviço, em acidentes e em aumento nos custos de tratamento de saúde e de indenizações de trabalhadores”.
Todo esse dinheiro acaba saindo do bolso de quem paga imposto e dos consumidores. Um estudo realizado na Alemanha, em 1995, calculou que o custo anual do abuso de drogas naquele país era de 120 dólares para cada cidadão. Nos Estados Unidos, certa estimativa era ainda mais alta — 300 dólares por cabeça.
Um custo muito maior, porém, é o dano social que as drogas causam à comunidade. Quem poderia calcular o custo da desintegração de tantas famílias, do abuso de tantas crianças, da corrupção de tantas autoridades e da morte prematura de tantas pessoas? O que tudo isso significa em termos humanos? O artigo seguinte examinará como as drogas afetam a vida dos que as usam.

AS DROGAS E O CRIME

AS DROGAS ESTÃO LIGADAS AO CRIME EM PELO MENOS QUATRO MANEIRAS:

1. A posse não-autorizada e o tráfico de drogas são considerados crimes em quase todos os países do mundo. Só nos Estados Unidos, a polícia prende por ano cerca de um milhão de pessoas por envolvimento com drogas. Em alguns países, o sistema judicial está tão lotado de processos criminais ligados às drogas que a polícia e os tribunais simplesmente não conseguem dar vazão.
2. Visto que as drogas são muito caras, muitos usuários recorrem ao crime para financiar o vício. O viciado em cocaína, por exemplo, talvez precise de uns mil dólares semanais para sustentar o vício! Não é para menos que os arrombamentos, os assaltos e a prostituição floresçam quando as drogas fincam raízes numa comunidade.
3. Outros crimes são cometidos para facilitar o narcotráfico, um dos mais lucrativos negócios do mundo. “O comércio ilícito das drogas e o crime organizado são mais ou menos interdependentes”, explica o World Drug Report. Para garantir o fluxo fácil das drogas, os traficantes tentam corromper ou intimidar as autoridades. Alguns têm até mesmo um exército particular. Os enormes lucros dos barões da droga também criam problemas. Sua fabulosa receita poderia facilmente incriminá-los se esse dinheiro não fosse “lavado”. Assim, bancos e advogados são usados para despistar a movimentação do dinheiro das drogas.
4. Os efeitos da própria droga podem levar a atividades criminosas. Familiares talvez sofram abusos por parte de usuários de drogas crônicos. Em alguns países africanos afligidos pela guerra civil, crimes horríveis têm sido cometidos por soldados adolescentes drogados.

Vidas arruinadas, vidas perdidas

“AS DROGAS são como martelos de ferreiro”, diz o Dr. Eric Nestler. De fato, uma única dose desses “martelos” químicos pode matar. “Sabe-se, por exemplo, de pessoas que morreram na primeira vez que usaram crack (uma droga à base de cocaína)”, diz o livro Drugs in America.
A nova onda de drogas sintéticas pode ser igualmente perigosa. “Adolescentes ingênuos que compram drogas nas raves [sessões de dança que varam a noite] talvez não tenham noção do tipo de coquetel químico que bombardeará o seu cérebro”, alerta o World Drug Report. Para a maioria dos jovens, porém, a descida para o abismo das drogas é gradual, como ilustram os seguintes exemplos:
“Fuga da realidade”
Pedro, um dos nove filhos de uma família, nasceu num bairro violento na cidade de Córdoba, Espanha. Ele teve uma infância traumática por causa do alcoolismo do pai. Aos 14 anos, começou a usar haxixe, influenciado por um primo. Em um mês, estava viciado.
“Usar drogas era um passatempo”, explica Pedro, “uma fuga da realidade e um modo de ser aceito pelo grupo. Aos 15 anos, além de haxixe, passei a usar LSD e anfetaminas. O LSD era a minha droga preferida e, para poder comprá-la, tornei-me um pequeno traficante, especialmente de haxixe. Certa vez, depois de uma overdose de LSD, não pude dormir a noite inteira, e pensei que havia enlouquecido. Fiquei assustado. Percebi que, se continuasse a usar drogas, acabaria preso ou morto. Mas a ânsia de drogas afastou esse medo. Fiquei fortemente viciado em LSD, e precisava de uma dose cada vez maior para ficar ‘alto’. Apesar dos efeitos apavorantes, eu não conseguia parar. Não sabia como sair disso.
“O LSD não era barato, de modo que aprendi a roubar joalherias, arrancar bolsas de turistas e roubar relógios e carteiras de pessoas na rua. Aos 17 anos, eu já controlava um setor da cidade, como traficante, e cheguei a participar em assaltos à mão armada. E minha fama de criminoso violento me rendeu o apelido de el torcido.
“Quando a gente mistura drogas com álcool, a personalidade muda, muitas vezes de modo violento. E o desejo de obter mais drogas é tão forte que anula totalmente a consciência. A vida se torna uma montanha-russa, e a pessoa só consegue viver drogada.”

“Mergulhados no mundo das drogas”

Ana, esposa de Pedro, foi criada na Espanha, num bom ambiente familiar. Aos 14 anos, Ana conheceu alguns rapazes de uma escola vizinha, que fumavam haxixe. De início, ela sentia repulsa do comportamento estranho deles. Mas uma de suas amigas, Rosa, sentiu-se atraída a um desses rapazes, que a convenceu de que fumar haxixe não fazia mal e que ela iria gostar. Rosa experimentou a droga e ofereceu-a também para Ana.
“Tive uma sensação agradável e, dentro de algumas semanas, eu fumava haxixe todos os dias”, diz Ana. “Depois de cerca de um mês, o haxixe não mais me satisfazia, de modo que passei a usar anfetaminas, além de fumar haxixe.
“Logo eu e meus amigos estávamos totalmente mergulhados no mundo das drogas. Falávamos sobre quem conseguiria tomar mais drogas sem sentir maus efeitos, e quem conseguiria ficar mais ‘alto’. Aos poucos, fui me afastando do mundo normal e raramente ia à escola. O haxixe e as anfetaminas já não bastavam, de modo que passei a injetar em mim mesma um derivado de morfina, que eu adquiria em diferentes farmácias. No verão assistíamos a concertos de rock ao ar livre, onde sempre era fácil obter drogas, como o LSD.
“Certo dia minha mãe me pegou fumando haxixe. Meus pais fizeram o possível para me proteger. Falaram-me dos perigos das drogas e o quanto me amavam e se preocupavam comigo. Mas eu achava que seus esforços eram uma interferência indesejada na minha vida. Aos 16 anos, decidi sair de casa. Juntei-me a um grupo de jovens que percorriam toda a Espanha vendendo colares artesanais e tomando drogas. Dois meses depois, a polícia me pegou, em Málaga.
“Ao ser entregue pela polícia aos meus pais, eles me receberam de braços abertos, e senti vergonha do que eu fizera. Meu pai chorava — algo que eu nunca o vira fazer antes. Lamentei tê-los magoado, mas o remorso não foi suficiente para me fazer largar as drogas. Eu usava drogas todos os dias. Quando estava sóbria, às vezes eu pensava nos riscos — mas por pouco tempo.”

De pedreiro a traficante

José, um amigável chefe de família, passou cinco anos traficando maconha do Marrocos para a Espanha. Como é que se envolveu nisso? “Quando eu trabalhava de pedreiro, um colega começou a traficar drogas”, explica. “Visto que eu precisava de dinheiro, me perguntava: ‘Por que não fazer o mesmo?’
“Era fácil comprar maconha no Marrocos — a quantidade que eu pudesse comprar. Com minha lancha veloz eu escapava facilmente da polícia. Uma vez na Espanha, eu vendia a droga em grandes quantidades, uns 600 quilos por vez. Eu tinha apenas três ou quatro compradores, que adquiriam qualquer quantidade que eu conseguisse arranjar. Mesmo com vigilância policial, a droga entrava no país. Nós, traficantes, tínhamos equipamento muito melhor do que a polícia.
“Eu ganhava facilmente muito dinheiro. Uma viagem da Espanha ao norte da África podia me render de 25 mil a 30 mil dólares. Em pouco tempo, eu tinha 30 homens a meu serviço. Nunca fui pego, pois eu pagava um informante para me avisar quando meus movimentos estavam sendo vigiados.
“Às vezes, eu pensava no mal que essas drogas podiam estar causando aos outros, mas eu havia me convencido de que a maconha era uma droga leve, que não matava ninguém. E, visto que estava ganhando muito dinheiro, pouco ligava para isso. Mas eu mesmo nunca usei drogas.”

Seu dinheiro e sua vida!

Como mostram esses exemplos, a droga acaba dominando a vida da pessoa. Uma vez viciado, livrar-se disso é difícil e traumático. Como diz o livro Drugs in America, “no Velho Oeste, os bandidos apontavam o revólver para a vítima e exigiam: ‘O dinheiro ou a vida.’ As drogas são piores do que os velhos foras-da-lei. Elas tiram as duas coisas”.
Existe algo que possa deter a avalancha das drogas? O próximo artigo examinará algumas soluções.

DIRÁ SEU FILHO NÃO ÀS DROGAS?

QUE TIPO DE ADOLESCENTES CORREM O MAIOR RISCO?

a. Os que desejam mostrar que são independentes e se dispõem a correr os riscos.
b. Os que pouco se interessam por objetivos acadêmicos ou espirituais.
c. Os que são contra a sociedade.
d. Os que não têm um conceito claro do que é certo e do que é errado.
e. Os que sentem falta de apoio parental e cujos amigos os incentivam a usar drogas. Os investigadores têm observado que “a qualidade da relação do adolescente com seus pais parece ser o melhor fator protetor contra o uso de drogas”. — O grifo é nosso.

COMO PROTEGER SEUS FILHOS?

a. Por ter uma relação bem-achegada com eles e uma boa comunicação.
b. Por instilar neles um claro conceito do que é certo e do que é errado.
c. Por ajudá-los a ter objetivos definidos.
d. Por fazê-los sentir que fazem parte duma família amorosa e duma comunidade calorosa.
e. Por ensinar-lhes a respeito dos perigos do abuso de drogas. As crianças têm de saber claramente por que é importante dizer não às drogas.

Poderá ser vencida a guerra contra as drogas?

VENCER a guerra contra as drogas é um alvo louvável, mas muito difícil de alcançar. Duas forças poderosas impulsionam o comércio das drogas — a oferta e a procura. Por quase um século, governos e polícias se concentraram em cortar a oferta. Seu pressuposto era simples: não havendo drogas, não haveria viciados.

Ataques contra a oferta

Com esse fim, as forças policiais antidrogas têm confiscado grandes carregamentos de drogas, e a cooperação internacional tem levado à prisão de grandes traficantes. Mas, a dura realidade é que, ao passo que o policiamento eficaz pode forçar alguns traficantes a se mudarem para outro lugar, a procurar outros mercados ou a se tornarem mais engenhosos, isso não os detém. “Nunca seremos um páreo à altura dos traficantes enquanto eles tiverem recursos ilimitados e nós tivermos de travar guerras orçamentárias”, admitiu um especialista em narcóticos.
Joe de la Rosa, agente na prevenção ao crime da Força Policial de Gibraltar, falou a Despertai! sobre a dificuldade de controlar o narcotráfico entre a África e a península Ibérica. “Em 1997 nós recolhemos uns 400 quilos de resina de maconha”, disse ele. “A maior parte não foi confiscada de traficantes; foi encontrada boiando no mar, ou recolhida nas praias, para onde foi arrastada pelas ondas. Isso dá uma idéia da enorme quantidade de drogas que cruza o estreito de Gibraltar todo ano. O que confiscamos é apenas a ponta do iceberg. Os que transportam as drogas da África para a Espanha usam lanchas velozes que deixam longe os barcos dos fiscais aduaneiros. E, caso pressintam o perigo de uma apreensão, eles simplesmente jogam as drogas ao mar, de modo que ficamos sem provas para acusá-los.”
A polícia enfrenta problemas similares em outras partes do mundo. Viajantes disfarçados, pequenos aviões, navios de transporte de contêineres e até mesmo submarinos contrabandeiam drogas através dos oceanos ou de fronteiras vulneráveis. Segundo um cálculo das Nações Unidas, “pelo menos 75% dos carregamentos internacionais de drogas teriam de ser interceptados a fim de reduzir substancialmente o lucro do narcotráfico”. Hoje, a taxa de interceptação provavelmente não é muito mais que 30% para a cocaína e bem menos para outras drogas.
Assim, por que os governos não atacam o problema na fonte e destroem todas as plantações de maconha, as papoulas de ópio e os pés de coca? Recentemente, as Nações Unidas recomendaram essa medida, que não é fácil. A maconha pode ser cultivada em quase qualquer terreno. Uma grande área de cultivo de coca, nos Andes, fica numa região “fora do controle do governo”. Situações similares existem em áreas remotas do Afeganistão e da Birmânia, principais fontes do ópio e da heroína.
Agravando o quadro, os narcotraficantes podem facilmente mudar para drogas alteradas quimicamente, cuja demanda aumenta. E laboratórios clandestinos podem fabricar essas drogas sintéticas quase em qualquer lugar do mundo.
Poderia o policiamento mais efetivo e penas mais duras coibir o comércio de drogas? São muitos os traficantes e muitos os viciados, e o número de policiais é pequeno demais para fazer com que isso dê certo. Nos Estados Unidos, por exemplo, há quase dois milhões de pessoas atrás das grades — muitas delas por crimes ligados às drogas. Mas a ameaça de prisão não tem impedido as pessoas de consumir drogas. Em muitos países em desenvolvimento, onde as vendas de drogas disparam, uma polícia desfalcada e mal paga é incapaz de deter a maré.

Pode-se reduzir a procura de drogas?

Se os esforços para controlar a oferta de drogas têm sido inúteis, que dizer de reduzir a procura? “A guerra contra as drogas é, na verdade, uma batalha pelo coração e mente das pessoas, não uma simples questão de polícia, tribunais e cadeia”, disse a revista Time.
Joe de la Rosa também acredita que a educação é a única forma de combater as drogas. “O vício de drogas é um problema social criado pela sociedade, de modo que temos de mudar a sociedade ou, pelo menos, mudar o modo de pensar das pessoas”, disse ele. “Estamos tentando envolver escolas, pais e professores, de modo que todos percebam que o perigo existe, que as drogas estão disponíveis e que seus filhos podem cair vítimas.”

O que as Testemunhas de Jeová têm feito

Há muitos anos, as Testemunhas de Jeová empenham-se em educar as pessoas a evitar as drogas. Elas têm preparado informações destinadas a ajudar pais e filhos a respeito dos perigos das drogas. Ademais, seu ministério tem ajudado a reabilitar muitos usuários e traficantes.
Ana, mencionada no artigo anterior, entrou em contato com as Testemunhas de Jeová porque a irmã dela ouvira falar do êxito das Testemunhas de Jeová em ajudar os viciados em drogas. Ana não tinha interesse especial pela Bíblia, mas, mesmo assim, foi a uma assembléia das Testemunhas de Jeová. Ali ela encontrou um homem que havia sido um notório traficante, mas que mudara totalmente de aparência e de estilo de vida. “Eu pensei: ‘Se ele pôde mudar, eu também posso’”, diz Ana. “A mudança que ele fez me convenceu de que eu deveria aceitar a oferta de um estudo bíblico.
“Logo depois do primeiro estudo decidi ficar em casa, pois sabia que, se saísse, encontraria outros usuários de drogas e eu voltaria a usá-las. Eu já sabia que era errado usar drogas e que Deus não aprova esse hábito. Também já tinha visto o efeito das drogas sobre as pessoas, e o mal que eu causara à minha própria família. Mas eu precisava de força espiritual para me livrar da prisão imposta pelas drogas. A desintoxicação foi difícil. Por algum tempo, eu simplesmente dormia o dia inteiro, ao passo que os efeitos das drogas diminuíam. Mas valeu a pena.”

Esperança e sentido reais

O marido de Ana, Pedro, também mencionado no artigo anterior, encontrou uma saída similar. “Certo dia, ao fumar haxixe na casa de meu irmão, vi um livro cujo título me intrigou”, lembra-se. “Chamava-se A Verdade Que Conduz à Vida Eterna. Levei-o para casa, li-o e conferi os textos bíblicos. Eu sabia que havia encontrado a verdade.
“Ler a Bíblia e falar a outros sobre o que eu aprendia fez-me sentir melhor e diminuiu minha ânsia de drogas. Desisti do plano de assaltar um posto de gasolina. Um amigo meu estudava a Bíblia com as Testemunhas de Jeová, e logo segui seu exemplo. Em nove meses, mudei meu modo de vida e fui batizado. Nesse período, assim que ex-amigos me ofereciam drogas eu lhes falava sobre a Bíblia. Alguns se interessaram. Um deles até largou o vício.
“Para largar as drogas é preciso ter esperança. A Bíblia me deu essa esperança, deu sentido à minha vida e mostrou-me claramente o conceito de Deus sobre as drogas e a violência. Notei que eu me sentia melhor à medida que aprendia sobre o Todo-Poderoso — e isso sem maus efeitos colaterais. Mais tarde, a associação com pessoas de vida limpa nas reuniões das Testemunhas de Jeová ajudou-me a perseverar.”

De traficante a pedreiro

José, o traficante mencionado no artigo anterior, é de novo pedreiro. Não foi fácil para ele largar o lucrativo negócio. “As drogas rendem muito dinheiro”, admite, “mas não é uma boa maneira de ganhar dinheiro. Vejo jovens, quase crianças, com revólveres na mão e com carros de luxo. Famílias se desintegram, o crime impera nas ruas e muitos viciados arrombam carros, furtam em lojas ou assaltam pessoas para obter dinheiro para as drogas. Muitos começam com maconha, ou com haxixe, passam para o ecstasy ou outros comprimidos e, daí, experimentam cocaína ou até mesmo heroína. Sei que contribuí para que muitos iniciassem esse ciclo.
“Meu estudo da Bíblia com as Testemunhas de Jeová convencia-me cada vez mais de que meu envolvimento com as drogas era errado. Eu queria ter uma boa consciência, e minha esposa, que também estudava a Bíblia, também queria. Naturalmente, é difícil parar de lidar com drogas. Eu expliquei para meus clientes e para meus auxiliares no tráfico que eu estava estudando a Bíblia e abandonara o comércio de drogas. De início, eles simplesmente não acreditavam em mim, e alguns ainda não acreditam. Não obstante, parei uns dois anos atrás e em nenhum momento me arrependi.
“Há um ano trabalho de pedreiro, que é a minha profissão. Agora, num mês eu ganho um quarto do que ganharia num dia como traficante. Mas este é um modo de vida melhor, e me sinto mais feliz.”

Solução global que vai funcionar

Uns poucos traficantes corajosos abandonaram o comércio de drogas. E várias formas de reabilitação têm ajudado milhares de usuários a vencer o vício. Mas, como o World Drug Report reconhece, “a longo prazo, a abstinência prolongada é a exceção, e não a regra”. Infelizmente, para cada viciado reabilitado, várias vítimas novas são enlaçadas. A oferta e a procura continuam a aumentar.
Para vencer a luta contra as drogas, é preciso uma solução global, porque o problema já é global. Nesse respeito, a Comissão das Nações Unidas sobre Narcóticos diz: “Ao passo que o abuso de drogas, o tráfico de drogas e a criminalidade ligada ao problema das drogas foram, na maioria dos países, reconhecidos como uma das principais ameaças à segurança, o público ficou menos ciente de que as drogas eram um problema global que não mais poderia ser resolvido apenas por empenhos nacionais.”
Mas, será que os governos mundiais vão se unir para erradicar esse flagelo global? Os resultados até hoje não têm sido animadores. A Bíblia, porém, aponta como solução definitiva um governo celestial que transcenderá as fronteiras nacionais. Ela garante que o Reino de Deus, governado por Jesus Cristo, durará “para todo o sempre”. (Revelação [Apocalipse] 11:15) Assim, sob o Reino de Deus, a educação divina garantirá o fim da procura de drogas. (Isaías 54:13) E os problemas sociais e emocionais que hoje são um terreno fértil para o abuso de drogas terão desaparecido para sempre. — Salmo 55:22; 72:12; Miquéias 4:4.

Precisa de ajuda?

Mesmo hoje, a esperança do Reino de Deus às mãos de Cristo está motivando pessoas a dizer “não” às drogas. Se desejar mais informações, entre em contato com as Testemunhas de Jeová na sua região.

Publicado em Despertai! de 8 de novembro de 1999

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